sexta-feira, 25 de junho de 2010

Infância desprevenida.

Já há muito tempo que a minha infância desprevenida, tão cheia de truques e partidas, partiu... E que saudades tenho dela!
Se não foram tempos fáceis foram com certeza os mais fáceis da minha vida, de tão saborosos e de tão variados que foram, de tão irresponsáveis e livres.

Senti dores e esfolei joelhos, tive desgostos, tive aventuras constantemente vividas em perigos indefensáveis, tive de “lutar” para vencer medos... Mas não será assim até morrer??

Infância, onde estás? Tenho saudades tuas...

Como era tudo tão belo, tão inconsequente! Apesar de ter nascido e crescido na cidade, a liberdade era quase total. Em férias, havia horários pra se fazer os trabalhos de casa (de manhã) e horários pra se sair de casa (logo a seguir ao almoço), mas o horário de regresso só chegava com o barulho da barriga a “dar horas”, ou com um chamamento mais audível para vir jantar (já de noite). E muitas vezes havia uma saída “past-dinner” que só me fazia regressar quando apenas o cansaço me fazia mover os pés, em direcção à cama (por volta das 23h). Brincava-se na rua com os vizinhos, no tempo em que ainda se conheciam os vizinhos do mesmo prédio e do mesmo bairro.

Infância onde estás? Tenho saudades tuas...

Nada mais nos era exigido para além de brincar e fazer os trabalhos de casa. Não havia obrigações. Só comer e dormir. E como eu dormia, meu Deus!! Que gozo me dava! Fazendo alguma retrospecção e analisando os dias de hoje, consigo perceber que ando agora a descontar o tempo a mais que dormi.

Infância onde estás? Tenho saudades tuas...

Foram realmente brilhantes esses tempos da minha infância desprevenida. Comparando com hoje, talvez tenha sido uma Rainha-Dona-Amélia ou uma Cleópatra. Fui com certeza a mais feliz das princesas à procura do seu “príncipe encantado”, uma doce Heidi, uma guerreira Shera. Talvez pertencesse até ao grupinho do Piranha, dos risonhos tempos do “Verão Azul”. Talvez tenha aprendido quase tudo com o “era uma vez...no espaço” ou com o “era uma vez... no corpo humano”. Certezas? Só uma... a de que fui realmente uma criança feliz!

Infância onde estás? Tenho saudades tuas...

(Não vou desistir de te procurar, pois talvez te possa encontrar ainda dentro de mim mesma.)

sexta-feira, 11 de junho de 2010

Só tu!


Tu.
Só tu!
Que abalroaste o meu coração e o apartaste de mim, incensível aos meus avisos e apelos.
Tu.
Só tu!
Que pregaste o meu frágil coração na cruz do teu penoso Altar particular e partiste rumo a outras rotas, a outras religiões, a outros credos.
Tu.
Só tu!
Cuja a ausência me provocou o caus como numa noite escura, no breu de hoje sinto que o tempo da cura e do luto tornou a tristeza normal.
Tu.
Só tu!
Não brinques tanto com o meu coração! Não o deixes vir na solidão envergonhado por voltar a sós!
Tu.
Só tu!
Depois que esta confusão toda passar e que o que é confuso te deixar sorrir, devolve-me o que tiraste daqui, que o meu peito se abre, se rasga, desata os nós.
Tu.
Só tu!
Se um dia resolveres mudar: tira meu pobre coração do altar. Devolve-mo como (Sim!) deve ser! Ou então, diz-me que dele resolveste cuidar. Tira-o da cruz e canoniza-o.
Tu.
Só tu!
Faz o que te parecer melhor.

Eu.
Só eu ... esperarei por ti ... até ao fim dos tempos.




Adaptado de um poema de Maria Gadú